sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Reportagem da Revista Nova Escola, de 09/2004

ADOLESCENTES- ENTENDER A CABEÇA DESSA TURMA É A CHAVE PARA OBTER UM BOM APRENDIZADO

Joyce Costa Batista, 16 anos, Marcos Amaral,16 anos, Morizi Salles Martins,16 anos, Beatriz Maria Minghetti,17 anos, Antonio Carlos de Souza Jr., 17 anos, Fernando Ferreira Garabedian, 16 anos, Erick Tavares Albunaz, 18 anos, Joice Alves dos Santos, 16 anos
Joyce Costa Batista, 16 anos, Marcos Amaral,16 anos, Morizi Salles
Martins,16 anos, Beatriz Maria Minghetti,17 anos, Antonio Carlos de
Souza Jr., 17 anos, Fernando Ferreira Garabedian, 16 anos, Erick Tavares
Albunaz, 18 anos, Joice Alves dos Santos, 16 anos

"A culpa é dos hormônios." Até há bem pouco tempo, a indisciplina e o comportamento emocionalmente instável dos adolescentes eram atribuídos à explosão hormonal típica da idade. Pesquisas recentes mostram, no entanto, que essa não é a única explicação para a agressividade, a rebeldia e a falta de interesse pelas aulas, que tanto preocupam pais e professores. Nessa fase, o cérebro também passa por um processo delicado, antes desconhecido: as conexões entre os neurônios se desfazem para que surjam novas. Simplificando: o cérebro se "desmonta", reorganiza as partes e em seguida se "monta" novamente, de forma definitiva para a vida adulta (veja quadro).


Entre 13 e 19 anos, é comum os jovens apresentarem reações e comportamentos que independem da vontade deles. Portanto, nem sempre palavras ditas de maneira agressiva ou arrogante são fruto da falta de educação. Para quem convive diariamente com turmas dessa faixa etária — que ora parecem estar no mundo da lua, ora com pane no sistema — e quer conquistá-las, a saída é agir de forma firme, mas respeitosa.

Não adianta bater de frente


A primeira "lição" para quem trabalha com adolescentes é não tomar para o lado pessoal qualquer tipo de afronta vinda de um aluno. Responder a uma provocação no mesmo tom só faz você perder o respeito e a admiração do grupo — o que dificulta o trabalho em classe. Além disso, ao perceber que tirou o professor do sério, o jovem se sente vitorioso e estimulado a repetir a dose. "Educar não é um jogo em que se determina quem vence ou perde", afirma a psicopedagoga Maria Helena Barthollo, do Centro de Estudos da Família, Adolescência e Infância, no Rio de Janeiro. Ela sugere que a luta com a garotada dê lugar a parcerias. Os acordos incluem regras, direitos e limites que valem para todos, inclusive você.

O jovem, a partir dos 12 ou 13 anos, está passando por um período de instabilidade psicológica natural. De acordo com a psicopedagoga Nadia Bossa, professora da Universidade Santo Amaro, em São Paulo, nesse período ele revive conflitos típicos da infância. "Aos 2 ou 3 anos, quando a criança percebe sua fragilidade, grita, teima, testa os adultos. Quando a mãe, por exemplo, impõe um limite, ela tem a garantia de que está sendo cuidada", explica. O adolescente faz o mesmo. "Ele testa os limites dos adultos numa tentativa de estabelecer novos parâmetros de poder sobre sua realidade." Considerando a informação, fica mais fácil para você não interpretar reações intempestivas como uma agressão pessoal.

O professor de História Renato Mota Duarte, da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Derville Allegretti, em São Paulo, já se deu conta de particularidades dessa fase. "Não grito quando os alunos ignoram que eu entrei na sala. Dou bom dia e começo a chamada em voz baixa. Aos poucos eles se acalmam." Mas quando o professor encontra a turma na maior briga? É hora de estabelecer a ordem e ouvir os motivos da discussão. "Não adianta fingir que nada aconteceu porque a cabeça deles está longe da matéria", observa o professor de Ciências e Biologia Jefferson Marcondes de Carvalho, do Colégio Madre Alix, também em São Paulo. Nessas situações, ele age como um intermediário, levando os estudantes a entrar em acordo, mantendo sempre o respeito.

Os alunos precisam ter voz


Os dois educadores apostam na qualidade do relacionamento com os alunos como um dos fatores determinantes para a aprendizagem. Carvalho organiza oficinas de malabarismo com a turma e Duarte incentivou a grafitagem, depois de encontrar a parede do corredor pichada. Dessa forma, os alunos dele perceberam que tinham liberdade de pedir o que desejavam. "A escola tem que acolher as sugestões dos estudantes, analisá-las e ver se são viáveis. Assim, eles se sentem considerados e respeitados", explica Nadia Bossa.

Na escola de Duarte, a cada 15 dias os intervalos têm tempo dobrado, porque os estudantes fazem apresentações musicais para os colegas. O professor também trabalha a interação e o respeito entre os jovens, debatendo assuntos que tanto os inquietam, como sexualidade, drogas, violência e desemprego. Ele costuma atender cada um de seus alunos em particular. "Procuro saber como eles estão se sentindo, os problemas pelos quais estão passando e como é o relacionamento com a família. Deixo que fiquem à vontade para falar."

O interesse facilita a aprendizagem

Confiança e consideração: o professor Renato Duarte, da Escola Derville Allegretti, atende em particular cada um dos alunos, que confidenciam a ele angústias e inseguranças. Foto: Gustavo Lourenção
Confiança e consideração: o
professor Renato Duarte, da Escola
Derville Allegretti, atende em
particular cada um dos alunos,
que confidenciam a ele angústias
e inseguranças.
Foto: Gustavo Lourenção

Confiança e consideração: o professor Renato Duarte, da Escola Derville Allegretti, atende em particular cada um dos alunos, que confidenciam a ele angústias e inseguranças
Se os adolescentes admiram e respeitam o professor, ele já tem meio caminho andado para desenvolver os conteúdos curriculares. Para percorrer a outra metade do caminho, é preciso ter boas táticas. Uma das melhores formas de ensinar os jovens é fazer da sala de aula algo bem próximo do mundo deles. Por isso, Duarte fica por dentro da onda hip-hop e aprende parte da linguagem e dos interesses da garotada, enquanto Carvalho assiste à MTV — canal aberto com programação dirigida aos jovens — para saber as novidades. Ambos já sabem que o adolescente só retém na memória o que chama muito a atenção. E a ciência confirma o que eles concluíram no dia-a-dia. Atividades feitas com base em um rap que a moçada adora, por exemplo, permitem que as informações sejam fixadas na memória com mais facilidade.

"A música estimula o lobo temporal no cérebro e faz com que os circuitos estabelecidos com o córtex pré-frontal — região que analisa a informação — sejam mais consistentes", afirma a neuropediatra Tania Saad, professora do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, no Rio de Janeiro. O lobo frontal é a região responsável pelas emoções e pelas experiências de vida. Como o cérebro está se reorganizando, o adolescente não tem idéia do que é ou não importante. Por isso, se ele não vê relevância de uma informação para sua vida, o novo dado se perde no turbilhão que é a sua cabeça.

Para fazer das aulas algo que instigasse seus alunos da 6ª série, Carvalho recebeu o jogo Super Trunfo com entusiasmo em sala. Na brincadeira, vence quem tem as cartas com carros mais potentes ou velozes. Com base no conteúdo estudado, a meninada bolou o Super Trunfo Animal. Os alunos pesquisaram vertebrados e invertebrados e levantaram uma série de características de diversos bichos. Eles criaram os critérios de pontuação, que variaram conforme a sala. "Numa turma, os animais em extinção venciam porque eram raros. Em outra, eles perdiam porque, se houvesse uma alteração ambiental, seriam os primeiros a morrer", conta Carvalho.

Duarte vai pelo mesmo caminho e igualmente relaciona o cotidiano dos alunos aos temas do currículo. "Pedi para eles observarem onde eram fabricados os tênis ou as canetas que usavam. Essa foi a forma de introduzir a discussão sobre a abertura econômica da década de 1990 e os índices de desemprego no Brasil", comenta. "Quando o professor aproxima o conteúdo escolar dos interesses dos alunos, a necessidade de resistir fica em segundo plano", analisa Nadia Bossa.

Quando o problema é outro
O mundo do jovem na escola: a turma de Jefferson de Carvalho, do Colégio Madre Alix, aprendeu Ciências ao adaptar um popular jogo de cartas. Foto: Manuel Nogueira
O mundo do jovem na escola: a
turma de Jefferson de Carvalho,
do Colégio Madre Alix, aprendeu
Ciências ao adaptar um popular
jogo de cartas.
Foto: Manuel Nogueira

Nem sempre, contudo, atitudes inadequadas do aluno são totalmente justificadas pela fase por que passa. Agressividade ou problemas de socialização podem ter causas mais sérias, com as quais o adolescente não sabe lidar. "Vale o professor ficar atento também à vida familiar do estudante", alerta Tania Saade. "O jovem não tem um bom rendimento escolar se os pais o agridem física ou moralmente."

Há ainda alunos que chegam à adolescência com problemas auditivos ou visuais nunca tratados, o que justifica o desinteresse pelas aulas. Outro tipo de caso citado pela neuropediatra é o dos estudantes que não cursaram a Educação Infantil. Nessa etapa da escolarização, o aluno aprende a se socializar e a conviver com regras, além de desenvolver a linguagem oral e a psicomotricidade. "É fundamental o professor estudar o histórico completo do aluno e estar atento ao que se passa com ele fora da escola", recomenda Tania.

Trabalhar dessa maneira — conhecendo bem o aluno, fazendo pontes constantes entre o mundo jovem e a matéria a ser dada e driblando o comportamento agitado da turma — requer comprometimento, planejamento apurado e alto grau de paciência. Para não perder o equilíbrio, as especialistas dão uma sugestão importante: deixe seus problemas do lado de fora da sala e não absorva aqueles que surgirem lá dentro. Não é fácil, mas dados os primeiros passos, não só o conteúdo vai ser bem trabalhado como também a formação humana, que justifica a existência da escola.

Cada atitude pede uma solução


Você evita prejudicar suas aulas quando lida adequadamente com reações típicas da adolescência.

Desinteresse — O jovem está mais preocupado com a roupa que vai usar do que com os presidentes da época da ditadura. Tente saber o que passa pela cabeça dele e contemple em suas aulas as dúvidas que traz sobre sexualidade, por exemplo, por meio de dinâmicas, pesquisas ou debates. Para não expor ninguém, procure ter conversas particulares. O estudante precisa sentir que a escola satisfaz suas expectativas.

Agressividade — Vandalismo e agressões verbais e físicas, por exemplo, podem ser resposta do jovem ao mundo que o cerca. Cobranças por bom desempenho escolar e por atitudes maduras geram ansiedade e reações inadequadas, já que ele não se sente apto a atender às expectativas. Procure saber como é o relacionamento do aluno com os pais e que idéia faz de si mesmo e de seu futuro. Se ele encontrar na escola um local para expressar seus pensamentos e descobrir suas aptidões, o nível de ansiedade e a agressividade diminuem.

Arrogância — O adolescente acha que pode tudo. A idéia de que está sempre certo faz com que ele desdenhe do que é dito ou imposto. Em vez de responder à altura, uma boa solução é questioná-lo. Peça que explique o que tem em mente e pergunte porque usou aquele tom de voz. Para responder, ele vai formular melhor os argumentos. Pode ser que reconheça o erro, mas, mesmo se ele mantiver o que disse, já terá ao menos aprendido a se expressar de forma educada.

Rebeldia — Você sugere à turma a apresentação oral de um conteúdo estudado. Responder com um baita "Ah, não!" geralmente é a primeira reação. Os motivos podem ser insegurança ou mesmo uma forma de se auto-afirmar frente aos colegas. O problema é quando a negação vem de forma brusca. O melhor a fazer, nesse caso, é não entrar no embate já que o jovem testa os mais velhos para ver até onde pode ir. Ao falar o que é necessário e deixar claro o papel de cada um, você conquista o respeito deles pelo bom exemplo.

Resistência — O jovem quer experimentar tudo, viver tudo, saber de tudo. Só que tem sempre um adulto dizendo o que ele não pode fazer. Mesmo que essas sejam orientações sensatas, é preciso compreender que sensatez ainda não é uma qualidade que eles valorizam. O adulto é quem impede as coisas que dão prazer. Por isso a resistência ao que vem do professor ou dos pais (e nisso se inclui o conteúdo escolar). Antes de começar a aula, por que não bater um papo rápido sobre algo que interessa à moçada? Aberto o espaço, os jovens baixam a guarda e percebem que para tudo tem hora.

A neurologia explica

Tudo o que pode parecer estranho no comportamento dos adolescentes tem explicação neurológica. A falta de interesse pelas aulas, por exemplo, é conseqüência de uma revolução nas sinapses (conexões entre as células cerebrais — os neurônios). Nessa etapa da vida, uma série de alterações ocorre nas estruturas mentais do córtex pré-frontal — área responsável pelo planejamento de longo prazo e pelo controle das emoções —, daí a explicação para ações intempestivas e às vezes irresponsáveis.

Por volta dos 12 ou 13 anos, o cérebro entra num processo de reconstrução. "É o que eu chamo de 'poda' das sinapses para que outras novas ocupem o seu lugar", afirma o psiquiatra Jorge Alberto da Costa e Silva, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que estuda essas alterações na Escola Médica de Nova York. Segundo Silva, o cérebro faz uma limpeza de conexões que não têm mais utilidade — como as que surgiram para que a criança aprendesse a andar ou a falar, por exemplo — e abre espaço a novas.

Grosso modo, funciona assim: quanto mais são usadas, mais as conexões se desenvolvem e amadurecem. Imagine que para tocar um instrumento o indivíduo necessite de algumas sinapses. Quanto mais ele pratica, mais "fortes" ficam as conexões. Se não são usadas, elas ficam lá só ocupando espaço e são descartadas na adolescência. Ao mesmo tempo, o que a pessoa aprende nesse período fica para a vida inteira.

Esse intenso processo de monta e desmonta remodela toda a estrutura básica cerebral. Por isso, afeta "desde a lógica e a linguagem até os impulsos e a intuição", explica a jornalista Barbara Strauch, editora de medicina do jornal norte-americano The New York Times e autora do livro Como Entender a Cabeça dos Adolescentes, que apresenta as últimas pesquisas sobre o assunto.
Giovana Girardi

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/adolescentes-entender-cabeca-431429.shtml

Reportagem da Revista Nova Escola, de 05/2008

MASSACRE VIRTUAL

AGRESSÃO GRATUITA - Comentários hostis expõem educadores, que podem, e devem, combatê-los sempre
AGRESSÃO GRATUITA - Comentários hostis expõem educadores, que podem, e devem, combatê-los sempre

"Fica livre dele eh a melhor coisa do mundo! Além de surdo eh chato! "

"Ela eh ridícula."

"Aquele vesgo do inferno sempre me dá nota baixa."

As frases acima estão ou estiveram publicadas na internet. Elas foram redigidas e postadas por alunos com a intenção de humilhar e ridicularizar professores. Conhecido como bullying - atitudes agressivas intencionais e repetitivas -, esse comportamento já era preocupação de educadores, que há muito procuram maneiras de evitar suas manifestações entre os jovens. A diferença é que agora são eles as vítimas. Quem tem o propósito de ferir os sentimentos do outro encontrou uma poderosa arma na internet, na qual essa conduta recebe o nome de cyberbullying.

No mundo virtual, fica mais fácil tornar públicos imagens e comentários depreciativos, usando para isso blogs, fotologs e sites de relacionamento, de forma anônima ou assumindo a autoria.

Alguns docentes tentam não se incomodar. O professor de Química George Lopes, de Silvânia, a 80 quilômetros de Goiânia, diz não se importar com a comunidade em que é citado (veja imagem acima), que existe há três anos. Quando foi publicada, ele apenas quis saber o teor dos comentários. Descobriu frases como "Dar uma pedrada nele é o meu sonho" e outras ainda mais ofensivas. "Todo educador é visto como chato pelos jovens. Eu sempre fui rígido, por isso os estudantes criaram essa forma de protesto. Além disso, sei que alguns adolescentes se sentem bem humilhando os outros. Mas não ligo, não me atinge", afirma.

Inconformismo e atitude

"Perdi a vontade de dar aulas quando li que eles me achavam 'bisonho'. Nem consegui dormir." Sidnei Raimundo de Melo, professor de Matemática em Manaus, que não quis ser fotografado

Outros, como Sidnei Raimundo de Melo, que leciona Matemática em Manaus, não escondem a indignação. Ele não quis ser fotografado, mas declarou que até pensou em abandonar a carreira ao ler na internet "O professor Raimundo é bisonho". "Fiquei triste, tive insônia e perdi a vontade de trabalhar". Sem o apoio da direção da escola, ele procurou o responsável pela publicação para conscientizá-lo do caráter agressivo de sua atitude. O jovem pediu desculpas e deletou tudo. "É meu dever ajudar a construir valores éticos na sala de aula", afirma Sidnei. Ele estava disposto a prestar uma queixa formal caso a conversa não surtisse efeito: "Os jovens precisam aprender que não dá para desrespeitar impunemente."

Chocada também ficou Maria Aparecida de Carvalho, que dá aulas de Física no Rio de Janeiro, ao descobrir que uma de suas aulas fora gravada em vídeo e estava num site com o título "Maria recebendo um santo". Ela costumava fazer paródias de músicas e adaptar as letras com conteúdos da disciplina para cantá-las com as turmas. Os comentários diziam que ela era ridícula e adorava aparecer. O vídeo foi deletado após a professora avisar que tomaria providências legais.

Esforço conjunto


Tentar evitar essas manifestações deve ser uma preocupação da escola e dos familiares para que não seja preciso partir para medidas extremas (leia os quadros abaixo). De acordo com o psicoterapeuta José Augusto Pedra, presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar, em São Paulo, só o esforço conjunto de pais e educadores é capaz de resultar em conscientização: "A prevenção envolve palestras, atividades que estimulem a solidariedade e a discussão do regimento interno da escola".

Se mesmo assim o professor for vítima de agressão virtual, algumas providências podem ser tomadas. Segundo a pesquisadora Cleo Fante, também do Centro Multidisciplinar sobre Bullying, caso nenhuma medida pedagógica ou legal seja tomada, os jovens continuarão a repetir essas atitudes porque terão certeza da impunidade. "Eles podem se sentir à vontade para denegrir a imagem do professor ou de qualquer outra pessoa. E isso não deve ser permitido, sob pena de comprometer a formação do indivíduo."

Como se prevenir

O psicoterapeuta José Augusto Pedra, de São Paulo, sugere algumas ações para evitar o cyberbullying:

■ Converse com os alunos sobre o tema para que eles não vejam essa atitude como brincadeira.

■ Chame os pais para palestras que tratem do assunto.

■ Envolva os adolescentes em atividades solidárias para fortalecer o senso humanitário e de cidadania.

■ Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas e direção a possibilidade de incluir o tema.

Como se defender

O advogado Rodrigo Santos, de São Paulo, especializado em crimes virtuais, afirma que as vítimas têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria, calúnia e difamação; se tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais; e, se for maior, assumirá a responsabilidade pelos crimes. Algumas formas de se defender:

■ Salve e imprima as páginas dos sites.

■ Consiga testemunhas do ocorrido.

■ Preste queixa em delegacia comum ou em uma especializada em crimes virtuais, se houver em sua cidade.

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/massacre-virtual-431447.shtml

Reportagem da Revista Nova Escola, de Abril 2009

PELO BEM DAS PRÓXIMAS GERAÇÕES

*A psicóloga Lídia Aratangy vai trocar mensagens com os leitores durante os próximos dias. Para participar, use a ferramenta de comentários, no final da página ou na coluna à direita.

Lídia Aratangy. Foto: Daniel Aratangy
Lídia Aratangy. Foto: Daniel Aratangy

Cenas de violência não se passam apenas nos cenários pobres de escolas públicas: acontecem também em escolas de classe média, freqüentadas por jovens de famílias econômica e culturalmente privilegiadas. Aí o problema pode ser até mais difícil, pois os professores dessas escolas têm a expectativa de que seus alunos tragam de casa uma educação adequada - e sentem-se despreparados para lidar com alunos agressivos e sem limites. Mas não adianta lavar as mãos nem clamar aos céus, com a alegação de que a escola não pode tomar a si a responsabilidade que a família não assume. Ainda é dentro de seus muros que esses jovens passam a maior parte do tempo, e essa oportunidade não pode ser desperdiçada.


É na adolescência que se desenvolve plenamente a capacidade de raciocínio abstrato, e é esse o melhor momento para firmar o compromisso com valores morais como a tolerância pelo diferente, o amor à justiça, o sentimento de solidariedade e a compaixão. É verdade que a escola não pode se encarregar de todos os aspectos da formação de seus alunos, mas é indesculpável que não faça tudo o que estiver ao seu alcance. As situações de violência não devem passar impunes, as agressões não podem ser ignoradas. Mas o castigo é parte do processo educativo, e não uma vingança ou penitência: deve ser contingente (isto é, aplicado logo depois da falta cometida), ligado à transgressão e, de preferência, oferecer a possibilidade de reparação do erro. Se a violência teve a forma de depredação de bens da escola, por exemplo, o aluno deveria ser levado a consertar o que quebrou; se foi agressivo com colegas ou professor, deveria ser orientado a fazer um trabalho sobre violência. É preciso lembrar que, quando um aluno tem um comportamento agressivo, a violência que ele expressa não está só nele: ele é protagonista de todo o seu grupo. Sua expulsão não elimina a violência da escola, apenas a exime de lidar com a questão. A escola deveria aproveitar o episódio de violência para levar todo o grupo a refletir sobre a ética da convivência. Há excelentes filmes (veja indicações abaixo) que podem ser usados para mobilizar nos jovens os sentimentos de empatia e solidariedade. O ideal seria que os alunos assistissem a esses filmes na própria escola, junto com educadores (professores ligados ao tema e orientadores) e, se possível, também os pais. Antes da projeção, deve ser feita uma breve contextualização do tema do filme e, logo após, um debate ligando a ficção com a realidade.

Nessa área, é imprescindível uma parceria verdadeira entre escola e família. Infelizmente, na maioria das vezes, essa aliança é superficial, carregada de hipocrisia. Diante de uma crise importante, dificilmente os pais do aluno problemático e os gestores da escola podem de fato dar-se as mãos em prol do jovem: a tendência da escola é expulsar o aluno, com a alegação (em geral verdadeira) de que os pais dos outros alunos não tolerariam deixar seus filhos numa escola que eles consideram conivente com o aluno faltoso. Mais produtivo seria que a escola e os pais trocassem informações a respeito do comportamento do aluno. Para a escola, será útil conhecer as normas da família sobre disciplina, saber a atitude dos pais com relação a punições e ao uso da autoridade, saber como o aluno se relaciona com os irmãos e que tipo de lazer os pais oferecem. A escola, por sua vez, conhece, melhor do que os pais, o comportamento social do jovem. Essa troca de informações permite uma programação conjunta de atividades (leituras, discussões, escolha mais cuidadosa de videogames etc) dentro e fora da escola, que poderão ajudar o aluno a rever e mudar sua atitude inadequada.

É importante lembrar que, se esses jovens correm alguns dos mesmos riscos que os economicamente menos privilegiados, em suas mãos a sociedade talvez corra riscos até maiores: estatisticamente, é dentre esses alunos que sairão os políticos e empresários da próxima geração, é desse grupo que sairá a maior parte das autoridades e líderes que comandarão o país. Essa é a hora de encontrar canais adequados para o inconformismo e a rebeldia, esse é o momento de apontar espaços de atuação onde a contestação própria da adolescência contribua, de fato, para melhorar o mundo. Para dar vazão à inquietação adolescente, é preciso levá-lo a desempenhar atividades significativas, como participação em programas solidários, que rompam a barreira do individualismo e façam com que ele se sinta parte de uma comunidade maior.

Não podemos deixar que eles acreditem que o mundo é feito de corrupção e violência, e que nele só os valentões e os espertalhões levam vantagens. Para lutar contra a paralisia e o cinismo de que tanto nos queixamos, não há momento mais propício do que a adolescência, não há espaço mais adequado do que a escola.

FILMES

Abaixo, as indicações de Lidia Aratangy para exibições na escola.

Jamaica Abaixo de Zero
Direção: Jon Turteltaub
Aparentemente, um filme sobre o espírito esportivo. Mas é também uma obra-prima sobre a solidariedade, o espírito de equipe e o respeito a si mesmo e ao outro. Fundamental.

O Clube da Felicidade e da Sorte
Direção: Wayne Wang
A história de quatro imigrantes chinesas nos Estados Unidos serve de pano de fundo para lidar com o choque de gerações e o preconceito.

O Banquete de Casamento
Direção: Ang Lee
O filme aborda a questão da homossexualidade masculina de maneira leve, levando o espectador a se identificar com os personagens, abalando assim os estereótipos sobre o amor e a sexualidade.

O Sol É para Todos
Dieração: Robert Mulligan
Um dos mais pungentes libelos contra o preconceito que o cinema já produziu.

Glória Feita de Sangue
Direção: Stanley Kubrick
Um filme sobre a irracionalide humana, que mostra o desvario das guerras e do conceito de heroísmo.

Este Mundo É dos Loucos
Direção: Philippe de Broca
A metáfora dos loucos que tomam conta da cidade abandonada provoca o questionamento sobre a inversão dos conceitos de sanidade e doença em nossa cultura.

O Inventor de Ilusões
Direção: Steven Sodesbourgh
Relata a saga de um garoto cuja mãe sofre reiteradas internações para tratamento de saúde. O menino vive com o pai em um quarto de hotel, em St. Louis, e passa por vicissitudes para lidar com a solidão, o desamparo e a fome.

Grand Cannyon
Direção: Lawrence Kasdan
Choque de gerações e de valores, num filme denso e emocionante.

Sociedade dos Poetas Mortos
Direção: Peter Weir
O professor apaixonado e criativo leva seus alunos (e a plateia) a indagações sobre o significado do conhecimento e a importância da cultura.

O Feitiço do Tempo
Direção: Harold Banis
A história aparentemente despretenciosa do repórter ranzinza e egoísta que se transforma com a repetição reiterada de um único dia de sua vida evoca temas fundamentais como a solidariedade e o preconceito.

Edward Mãos de Tesoura
Direção: Tim Burton
Recorrendo ao mito do rapaz que possuia duas tesouras no lugar das mãos, o filme trata com sensibilidade de questões como o desajeitamento do adolescente e o preconceito.

Todos os Corações do Mundo
Direção: Murilo Sales
O futebol serve de veículo para retratar diferentes expressões da emoção e momentos de solidariedade e confraternização.

FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/pelo-bem-proxima-geracoes-448285.shtml#box-solida

Reportagem da Revista Nova Escola, de 12/2004

COMO LIDAR COM BRINCADEIRAS QUE MACHUCAM A ALMA

A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar. Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: "Ô, cabeção, passa o livro!" O outro responde: "Peraí, espinha". Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, "de leve", na nuca do colega. A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: "Fala, metida!" Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: "Abre a boca, zumbi!" E a classe cai na risada.

O ambiente parece normal para você? Então leia esta reportagem com atenção. O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso senso de humor, é bullying. O termo ainda não tem uma denominação em português (veja quadro na pág. 60), mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as conseqüências estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.

Pesquisa realizada em 11 escolas cariocas pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), no Rio de Janeiro, revelou que 60,2% dos casos acontecem em sala de aula. Daí a importância da sua intervenção. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição na escola está ao seu alcance. Para isso, é preciso identificar o bullying e saber como evitá-lo.

Um perigo para a escola


Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores. Atitude semelhante tiveram dois adolescentes norte-americanos na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas.
Os exemplos de Edmar e dos garotos de Columbine, que tiveram reações extremadas, são um alerta para os educadores. "Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante. O objetivo deles era matar a escola em que viveram momentos de profunda infelicidade e onde todos foram omissos ao seu sofrimento", analisa o pediatra Aramis Lopes Neto, coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Abrapia.

Quem pratica e quem sofre


No filme norte-americano Bang Bang! Você Morreu, Trevor, o protagonista, é vítima de bullying. Para revidar, ameaça os que o perseguem com uma bomba de mentira. Diferentes dele são os que sofrem em silêncio e enfrentam com medo e vergonha o desafio de ir à escola. Em vez de reagir ou procurar ajuda, se isolam, ficam deprimidos, querem abandonar os estudos, não se acham bons para integrar o grupo, apresentam baixo rendimento e evitam falar sobre o problema.

"Quem mais sofre é quem menos fala. Esses passam despercebidos pelo professor", alerta a psicóloga Carolina Lisboa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Centro Universitário Feevale (RS). "Tinha vontade de ficar sozinha. Não queria ser notada", diz Vanessa Brandão Greco, da 7ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Thomas Mann, no Rio de Janeiro. Ela recebia apelidos humilhantes por causa dos cabelos crespos.

Mesmo quem adere à brincadeira se sente diminuído pelos comentários dos colegas. Mas, para se defender, entra no jogo — o que dá uma falsa impressão de que não se ressente. "Eu ridicularizava os outros porque, se não fizesse isso, o alvo seria eu", conta Leandro Souza Gomes Santos, da 8ª série.

Vanessa e Leandro tiveram mais sorte que Trevor, o personagem do filme, já que a escola deles se engajou há dois anos no programa de combate ao bullying promovido pela Abrapia. "Nós não toleramos isso porque todos sentiram na pele como é melhor estar em um ambiente de respeito", afirma a diretora Maria das Graças Caldas Freire. É verdade. Pelos corredores, a garotada toda sabe, na ponta da língua, o que é bullying e por que evitá-lo. Nas áreas em que o professor não está presente, há alunos voluntários. Eles observam a movimentação e quando identificam o problema dialogam com o colega. "Pergunto: e se fosse com você?", explica Karol de Castro Façanha, da 7ª série, um dos 30 voluntários da escola.

Foto: Renata Xavier"Eu vivia calada, não gostava de vir à escola e evitava certas pessoas para não ouvir piadinhas sobre o meu cabelo. Hoje eu adoro estar aqui"
Vanessa Brandão Greco, 7ª série
"Faziam piadas porque sou alta e achava isso ruim em mim. Descobri que por causa da minha altura posso jogar basquete"
Thaiane Conceição Dutra, 7ª série
"Me azucrinavam porque eu sou baixinha. Mas quem disse que isso é ruim? A Daiane dos Santos consegue dar aqueles saltos maravilhosos porque é baixinha que nem eu"
Daiany Andrade Silva, 7ª série

"Quando cheguei aqui, meus colegas me explicaram o que era bullying. Achei muito legal. Aprendi a não incomodar alguém que não merece"
Hugo Vinícius de Souza Lins, 5ª série
Ações da turma melhoram o ambiente


Para se adequar a um local hostil, os jovens acabam adotando um comportamento diferente do que seria natural para eles. "O Leandro era um agitador. Só tirava notas baixas e era difícil lidar com ele", lembra a professora de Geografia Rosana Mendes Ferreira. Ela notou que o programa adotado pela escola foi decisivo para o progresso do garoto, hoje com notas altas em diversas disciplinas. "E ainda nem cheguei aonde quero", ele afirma, confiante. Já Vanessa deixou de lado a timidez. "Hoje eu acho que falo até demais", confessa aos risos.

Como o bullying ainda é tratado como um fenômeno natural, pouquíssimas escolas conhecem e combatem o problema. Hugo Vinícius de Souza Lins está na 5ª série. Ele entrou na Thomas Mann este ano e conta que na escola onde estudava antes nunca tinha ouvido falar no assunto. "Lá me davam apelidos e, apesar de não gostar, fazia a mesma coisa. Aqui parei com isso, porque acho errado incomodar quem não merece." Os alunos são orientados a ser receptivos e a integrar quem acaba de chegar explicando que ali não se tolera o bullying. Isso evita o isolamento e o pré-julgamento do novato, que aprende a procurar ajuda.

As turmas já estão até organizando uma peça de teatro sobre o tema, que será apresentada para os pais e a comunidade. Os professores sugerem dinâmicas entre os adolescentes, estimulando o bom relacionamento, além de aplicar atividades que envolvam a questão. "Lendo as redações que eles produzem, consigo identificar o que sentem e se passam por algum problema", diz a professora de Língua Portuguesa Maria Pamphiro Veloso.

Segundo o pediatra Aramis Lopes Neto, os estudantes que participaram das pesquisas não tiveram muita dificuldade em identificar o problema na escola. "Só o nome era novo", diz. "Deparei com histórias tristes, de crianças e jovens que sofriam calados todo tipo de agressão", comenta. No programa da Abrapia, os professores foram orientados a, primeiramente, promover a conscientização das turmas sobre o bullying. "Se não fizermos isso, todos vão continuar com o que, para eles, é apenas uma brincadeira", explica a diretora Maria das Graças.

Na Thomas Mann, todos os casos vão parar na direção. E não é terrorismo, não. Na sala da diretora, a garotada entra e sai à vontade, mostrando confiança e desembaraço. Ir para a direção, lá, não significa uma punição. "Converso com todos os alunos e promovo o entendimento, o respeito", diz Maria das Graças. Nas reuniões pedagógicas, o assunto surge naturalmente, e os docentes contam como lidaram com os incidentes ocorridos em classe e discutem atividades feitas pelas turmas.

Cada professor busca em sua disciplina um gancho para trabalhar o tema. Assim, a professora de Artes monta os cartazes da campanha contra o bullying, que são dispostos nas paredes da escola. Em História, é trabalhada a questão do negro e do racismo no Brasil, que também é um dos motivos do fenômeno. Já a Geografia estuda os fatores políticos e econômicos que traçam os caminhos da desigualdade no Brasil.

Os professores observam o comportamento da turma e fazem perguntas para identificar possíveis vítimas e autores. Ao surgir uma situação em sala, a intervenção é imediata. Interrompe-se a aula para colocar o assunto em discussão e relembrar os combinados. "Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz Aramis.

As meninas são mais discretas


O bullying também pode ser praticado por meios eletrônicos. Mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulam por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que a vítima não está cara a cara com o agressor, o que aumenta a crueldade dos comentários e das ameaças. Quando a agressão está num mundo virtual, o melhor remédio é, mais uma vez, a conversa. Se crianças e adolescentes confiam nos adultos que os cercam, podem contar sobre o bullying sem medo de represálias, uma vez que terão a certeza de encontrar ajuda.
De modo geral, entre os meninos é mais fácil identificar um possível autor de bullying, pois suas ações são mais expansivas e agressivas. Eles chutam, gritam, empurram, batem. São os fortões, os temíveis. Já no universo feminino, o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a pesquisadora norte-americana Rachel Simmons, especialista em bullying feminino.

Ela conta que as meninas agem dessa forma porque espera-se que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios — além dos físicos — para se expressar", diz Rachel.

Sejam meninos, meninas, crianças ou adolescentes, é preciso evitar o sofrimento dos estudantes. A pesquisa da Abrapia revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas. "Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária, pois a escola não acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis.

No caso daqueles que recorrem à família, a ajuda também não é eficaz. Se os pais reclamam, a direção e os professores tomam medidas pontuais, sem desenvolver um trabalho generalizado, permitindo que o problema se repita. "A escola não deve ser apenas um local de ensino formal mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", conclui o pediatra.

Como inibir o bullying


• Para um ambiente saudável na escola, é fundamental:

• Esclarecer o que é bullying.

• Avisar que a prática não é tolerada.

• Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões.

• Estimular os estudantes a informar os casos.

• Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema.

• Identificar possíveis agressores e vítimas.

• Acompanhar o desenvolvimento de cada um.

• Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar.

• Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos.

• Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica de bullying.

• Prestar atenção nos mais tímidos e calados.
Geralmente as vítimas se retraem.
Fonte: Abrapia

Por que um nome em inglês?


O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater. Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos estudiosos do assunto o denominam "violência moral", "vitimização" ou "maltrato entre pares", uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais — no caso, estudantes. Como é um assunto estudado há pouco tempo (as primeiras pesquisas são da década de 1990), cada país ainda tem de encontrar uma palavra, em sua própria língua, que tenha esse significado tão amplo.

FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/como-lidar-brincadeiras-431324.shtml

Reportagem da Revista Nova Escola, de 04/2008

BULLYING: É PRECISO LEVAR A SÉRIO AO PRIMEIRO SINAL

de João Pessoa (PB)

Entre os tantos desafios da escola – está posto mais um. O bullying escolar – termo sem tradução exata para o português – tem sido cada vez mais reportado. É um tipo de agressão que pode ser física ou psicológica, ocorre repetidamente e intencionalmente e ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas. [Saiba melhor de que se trata o bullying]. “Ninguém sabe como agir”, sentencia a promotora Soraya Escorel, que compõe a comissão organizadora do I Seminário Paraibano sobre Bullying Escolar, que reuniu educadores, profissionais da Justiça e representantes de governos nos dias 28 e 29 de março, em João Pessoa, na Paraíba. “As escolas geralmente se omitem. Os pais não sabem lidar corretamente. As vítimas e as testemunhas se calam. O grande desafio é convocar todos para trabalhar no incentivo a uma cultura de paz e respeito às diferenças individuais”, complementa.

A partir dos casos graves, o assunto começou a ganhar espaço em estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com Educação. Para Lélio Braga Calhau, promotor de Justiça de Minas Gerais, a imprensa também ajudou a dar visibilidade à importância de se combater o bullying e, por conseqüência, a criminalidade. “Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da infância, mas de casos de violência, em muitos casos de forma velada. Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a criança e o adolescente facilitando posteriormente a entrada dos mesmos no mundo do crime”, avalia o especialista no assunto. Ele concorda que o bullying estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência explícita.

Seminário - Organizado pela Promotoria de Justiça da Infância e da Adolescência da Paraíba, em parceria com os governos municipal e estadual e apoio do Colégio Motiva, o evento teve como objetivo, além de debater o assunto, orientar profissionais da Educação e do Judiciário sobre como lidar com esse problema. A Promotoria de Justiça elaborou um requerimento para acrescentar os casos de bullying ao Disque 100, número nacional criado para denunciar crimes contra a criança e ao adolescente. O documento será enviado para o Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Durante o encontro também foi lançada uma publicação a ser distribuída para as escolas paraibanas, com o objetivo de evidenciar a importância de um trabalho educativo em todos os cenários em que o bullying possa estar presente – na escola, no ambiente de trabalho ou mesmo entre vizinhos. Nesse manual [quer fazer download? Clique aqui], são apresentados os sintomas mais comuns de vítima desse tipo de agressão, algumas pistas de como identificar os agressores, conselhos para pais e professores sobre como prevenir esse tipo de situação e mostram-se, ainda, quais as conseqüências para os envolvidos.

Em parceria com a Universidade Maurício de Nassau, a organização do evento registrou as palestras e as discussões – o material se transformará num vídeo-documentário educativo que será exibido nas escolas da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco.


Bullying vai muito além da brincadeira sem graça

Esse termo não tem um correspondente em português. Em inglês refere-se à atitude de um bully (valentão). Objeto de estudo pela primeira vez na Noruega, o bullying é utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica contra alguém em desvantagem de poder, sem motivação aparente e que causa dor e humilhação a quem sofre. “É uma das formas de violência que mais cresce no mundo”, afirma Cléo Fante, pedagoga pioneira no estudo do tema no país e autora de Bullying Escolar (Artmed). Segundo ela, o bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho. “Identificamos casos de bullying em escolas das redes pública e privada, rurais e urbanas e até mesmo com crianças de 3 e 4 anos, ainda no Ensino Infantil”, comenta.

Para o presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Buylling Escolar, José Augusto Pedra, o fenômeno é uma epidemia psico-social e pode ter conseqüencias graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. “Se observa também uma mudança de comportamento. As vítimas ficam isoladas, se tornam agressivas e reclamam de alguma dor física justamente na hora de ir para escola”, detalha José Pedra.

Até as testemunhas sofrem ao conviver diariamente com o problema, mas tendem a omitir os fatos por medo ou insegurança. Geralmente, elas não denunciam e se acostumam com a prática – acabam encarando como natural dentro do ambiente escolar. “O espectador se fecha aos relacionamentos, se exclui porque ele acha que pode sofrer também no futuro. Se for pela internet, no cyberbullying, por exemplo, ela ‘apenas’ repassa a informação. Mas isso o torna um co-autor”, completa Cléo Fante.

O bullying, de fato, sempre existiu. O que ocorre é que, com a influência da televisão e da internet, os apelidos pejorativos foram tomando outras proporções. “O fato de ter conseqüências trágicas, como mortes e suicídios, e a falta de impunidade proporcionou a necessidade de se discutir de forma mais séria o tema”, aponta Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro “Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil”.

Como identificar vítima e agressor

Depressão, baixo auto-estima, ansiedade, abandono dos estudos – essas são algumas das características mais usuais das vítimas. De certa forma, o bullying é uma prática de exclusão social cujos principais alvos costumam ser pessoas mais retraídas, inseguras. Essas características acabam fazendo com que elas não peçam ajuda e, em geral, elas se sentem desamparadas e encontram dificuldades de aceitação. “São presas fáceis, submissas e vulneráveis aos valentões da escola”, explica Cleo Fante, especialista no assunto.

Além dos traços psicológicos, as vítimas desse tipo de agressão apresentam particularidades, como problemas com obesidade, estatura, deficiência física. As agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos. “Também pode acontecer com um novato ou com uma menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas”, exemplifica Guilherme Schelb.

Os agressores são geralmente os líderes da turma, os mais populares – aqueles que gostam de colocar apelidos nos mais frágeis. Assim como a vítima, ele também precisa de ajuda psicológica. "No futuro, este adulto pode ter um comportamento de assediador moral no trabalho e, pior, utilizar da violência e adotar atitudes delinqüentes ou criminosas", detalha LélioCalhau.

Como prevenir o problema na escola

Para evitar o bullying, as escolas devem investir em prevenção e estimular a discussão aberta com todos os atores da cena escolar, incluindo pais e alunos. Para os professores, que têm um papel importante na prevenção, alguns conselhos dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (Artmed).

• Observe com atenção o comportamento dos alunos, dentro e fora de sala de aula, e perceba se há quedas bruscas individuais no rendimento escolar.
• Incentive a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças através de conversas, trabalhos didáticos e até de campanhas de incentivo à paz e à tolerância.
• Desenvolva, desde já, dentro de sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos.
• Quando um estudante reclamar ou denunciar o bullying, procure imediatamente a direção da escola.
• Muitas vezes, a instituição trata de forma inadequada os casos relatados. A responsabilidade é, sim, da escola, mas a solução deve ser em conjunto com os pais dos alunos envolvidos.

Como a família pode ajudar

Os pais devem estar alertas para o problema – seja o filho vítima ou agressor pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico. Veja as dicas dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (Artmed).

• Mostre-se sempre aberto a ouvir e a conversar com seus filhos.
• Fique atento às bruscas mudanças de comportamento.
• É importante que as crianças e os jovens se sintam confiantes e seguros de que podem trazer esse tipo de denúncia para o ambiente doméstico e que não serão pressionados, julgados ou criticados.
• Comente o que é o bullying e os oriente que esse tipo de situação não é normal. Ensine-os como identificar os casos e que devem procurar sua ajuda e dos professores nesse tipo de situação.
• Se precisar de ajuda, entre imediatamente em contato com a direção da escola e procure profissionais ou instituições especializadas.

FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-preciso-levar-serio-431385.shtml

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Anti-Bullying Animação

A animação do dia-a-dia de uma pessoa que sofre bullying, principalmente na escola.




Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Q81bsGI-JcY

Reportagem referente ao tema "Bullying" realizada para a o "Jornal das 4".

Reportagem referente ao tema "Bullying" realizada para a o "Jornal das 4" da Oficina de Televisão do Laboratório de Televisão da Universidade Fernando Pessoa.Reportagem igualmente ligada ao tema de trabalho do Grupo de estágio USB do 3º ano de Ciências da Comunicação da UFP. Em 6 de janeiro de 2009.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=OH3ob3Y55wc&feature=related

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Casos exemplares

Bullying (Ministério Público)

11 março 2008

Meu filho está sendo vítima de agressões na escola, que eu considero bullying. Já conversamos com a direção da escola, que diz estar ciente do assunto, mas eu não vejo a escola tomar nenhuma atitude. Gostaria de saber como eu devo proceder. O que devo fazer para que a escola admita esse problema e resolva de uma vez por todas? Fui informado que este problema deve ser denunciado ao Ministério Público, isto é verdadeiro?
Aguardo um retorno, orientando-me como devo proceder.

RESPOSTA DO OBSERVATÓRIO:

Obrigado pelo seu e-mail.
O tema bullying ainda é do desconhecimento da maioria, incluindo escolas e professores.
Você deve insistir com a escola. Sem a participação da escola, dos alunos,dos professores e da direção será difícil avançar.
De toda forma, acho que provocar o Ministério Público é uma boa ídéia.

Atenciosamente,

Lauro Monteiro
Médico pediatra / Editor do Observatório da Infância

Já sofri bullying. Criei um blog sobre o tema.

11 dezembro 2007

Sofri bullying durante vários anos em diferentes escolas, tive uma depressão profunda mal diagnosticada que resultou em internação psiquiátrica e quase custou minha vida. Mas resisti!

Meu nome é Daniele, uma gaúcha de Porto Alegre/RS.

E hoje estou aqui, com 22 anos, NOIVA, estudante de Pedagogia! E não é porque superei que vou fechar os olhos pra algo que acontece cada vez mais nas escolas, sejam elas públicas ou particulares.

PS. A remetente autorizou a sua identificação.

Blog de Daniele Vuoto:
http://nomorebullying.blig.ig.com.br/

Sofri Bullying

7 dezembro 2007

Sofri bullying na minha época escolar, e hoje consegui superar isso, mas quase entrei em uma profunda depressão, e já tentei o suicidio. Minhas colegas da escola, aproveitavam de mim, pois eu era meia bobinha, era boazinha, e não sabia dizer não e nem me defender, sempre fazia as vontades delas, e nisso mandavam em mim, colocavam apelidos, zombavam de mim, me fazendo me sentir uma inutil, uma pessoa esquisita, uma nada, e porém fazia tudo para não ser excluida da turma, fazendo assim as vontades delas.


Eu não era valorizada, a minha amigas sempre foram falsas comigo, ate fui varias vezes vitima de uma má reputação sem ao menos ter feito algo do que falavam sobre mim. e hoje estou coma minha auto-estima alta, to feliz, e estou cursando faculdade de letras, e estou trabalhando Bullying em minha monografia, estou procurando ajudar os que hoje sofrem.

Fontes: http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=362

http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=284

http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=280

Bullying na Internet leva adolescente ao suicídio

Acreditando nas falsas ofensas que lhe eram feitas continuamente através do site de comunicação My Space, a adolescente americana Megan Meier, de 13 anos, matou-se.

Segundo sua mãe, ela adorava cães, rap e garotos, nadar, pescar, velejar, mas sua vida não tinha sido fácil. Megan tinha dificuldade de fazer amigos e era muito sensível. Certa vez, falou para a sua mãe que ela se odiava e que havia pensado em suicídio. Seu médico receitou medicamentos para depressão e déficit de atenção.

Após meses de muita insistência, a mãe de Megan concordou em pagar uma conta do site de comunicação social MySpace (70 milhões de usuários). Só sua mãe tinha a senha, uma vez que Megan ainda não tinha completado 14 anos, idade mínima exigida pelo site para adesão.

Ocorre que Megan começou a receber mensagens de um personagem fictício criado por sua vizinha e a filha. Aparentemente, esse personagem queria ter um romance com Megan, mas logo ela começou a receber mensagens que a perseguiam continuamente, chamando-a de gorda, prostituta, mentirosa e coisas piores. Megan tentou reagir. Tentou se defender. Mas um dia falou para sua mãe ao telefone: "-Mamãe, eles estão sendo horríveis comigo." Depois de uma hora, Megan foi para o seu quarto e enforcou-se com um cinto. Sua mãe disse depois: "-De repente ela sentiu que não havia saída."

A vizinha Lori Drew confessou que ela e sua filha haviam criado um personagem fictício no My Space, que fingia ter interesse romântico em Megam, que acreditou. E foi aí que começou e terminou o seu inferno.

O New York Times de 16/12/2007 relata este caso e outros, alertando para o perigo do cyber bullying. Adolescentes com baixa auto-estima, muito sensíveis e infantis são as principais vítimas das mentiras colocadas nos telefones celulares, ou nos computadores. Alguns adolescentes podem acreditar que tudo que dizem é verdade e a tentação de acessar é enorme. Como disse Jake Dobson, de 12 anos: "Uma vez no My Space, você caiu em uma armadilha." Controlar a web é quase impossível e adolescentes mais suscetíveis podem chegar ao suicídio, como Megan.



Os pais de Megan. Foto: Peter Newcomb / The New York Times


Vídeo veiculado no YouTube que conta a história de Megan Meier


Fonte: http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=296

Vídeo de reportagem sobre Bullying. Jornal Nacional (Rede Globo) e ABRAPIA.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=mGbmqdGeokM

"As escolas encaram o bullying" especial da Revista Veja sobre o assunto

PREVENÇÃO NAS ESCOLAS

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu.
Coragem para a luta.”

O trecho acima, que abre o romance O Ateneu, lançado em 1888 por Raul Pompéia, permanece um clássico escolar. Para muitos, ir ao colégio demanda valentia. Isso se deve a um tipo de violência que é antiga, mas vem sendo popularizada sob o conceito de bullying – palavra inglesa que significa intimidar e atormentar e vem preocupando cada vez mais as escolas brasileiras. Embora não haja números oficiais, a prática de atazanar colegas – muitas vezes confundida por pais e educadores com uma simples brincadeira – já envolve 45% dos estudantes brasileiros, segundo estimativa do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes), organização com sede em Brasília. O índice está acima da média mundial, que variaria entre 6% e 40%.

Contra o bullying, as escolas investem em estratégias de prevenção, com solução pontual dos conflitos. Conforme a gravidade, algumas instituições particulares lançam mão de medidas punitivas como advertência e suspensão. A prevenção se dá por meio de palestras, dinâmicas em sala de aula e orientação oral ou escrita sobre o uso saudável dos meios digitais – já que parte do bullying ocorre on-line.

Privadas – Apesar da estimativa alarmante, as escolas particulares ouvidas pela reportagem de VEJA.com frisaram que são raros os casos de bullying dentro de seus muros. O combate ao problema é feito pelos professores ou por palestrantes convidados. “Discutimos o assunto com os estudantes num curso específico e endereçamos cartilhas sobre cyberbullying aos pais”, conta Cristiana Assumpção, coordenadora de tecnologia na educação do colégio Bandeirantes, de São Paulo. “A ideia é que o conteúdo seja reforçado em casa.”

A solução de conflitos tem início com uma tentativa de diálogo. “Quem nos avisa do bullying, em geral, é a vítima. Se o problema ainda não tiver tomado um grande vulto, conseguimos trabalhar de forma discreta, chamando os envolvidos para uma conversa. Se preciso, convocamos as famílias”, diz Fábio Aidar, vice-diretor-geral do colégio Santa Cruz. “Quando o caso toma vulto, chegamos a interromper aulas para discutir a questão com os alunos.”

A atuação do Colégio Chromos, de Belo Horizonte, vai no mesmo sentido. “Quando identificamos algum problema, conversamos com o aluno e imediatamente chamamos a família, que tem de ser conscientizada sobre o sofrimento enfrentado pelo filho, capaz de influir em seu desempenho escolar e nas suas relações com outros alunos”, diz Léa Maria Cunha, psicóloga do Chromos. “Também recomendamos à família que conduza o filho para uma terapia e acompanhe sempre sua rotina, saiba quem são seus amigos, converse com ele. O suporte dos pais é fundamental”.

O colégio Graphein, instituição de São Paulo que recebe alunos com histórico de dificuldades de adaptação, investe na linha relacional – ou seja, na interação entre estudante e escola. “A melhor forma de trabalho é o acolhimento com vínculo, é fazer o adolescente se sentir ouvido. O vínculo cria confiança e desmonta as defesas dele, melhorando a sua reflexão”, afirma Nivea Fabricio, diretora do colégio. “Nossos alunos, vítimas ou agressores, chegam fragilizados. É preciso resgatar a auto-estima de todos, porque, à medida que alguém se fortalece, deixa de temer o diferente e de sentir necessidade de se auto-afirmar.” Para Nivea, é preciso envolver também os pais nesse esforço.

Estado – Nas escolas públicas, a prevenção é dirigida aos professores, vistos como multiplicadores do saber. A especialista Cleo Fante, ex-presidente do Cemeobes, comandou um curso de capacitação para as 91 diretorias de ensino da rede estadual paulista, no início deste ano. A ideia era instruí-los a evitar a ocorrência de bullying nas escolas sob sua responsabilidade.

No Paraná, o tema faz parte de um curso de formação continuada para docentes, em que se discute o enfrentamento à violência. “O assunto reaparece em oficinas, grupos de estudos e materiais impressos”, diz Sandro Savoia, coordenador dos desafios educacionais contemporâneos da Secretaria de Educação do estado. O combate à violência é reforçado pela Patrulha Escolar, um grupamento da Polícia Militar que recebe formação extra para acompanhar o dia-a-dia das escolas, na tentativa de evitar ocorrências.

Para Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), é acertado o movimento preventivo das escolas, principalmente quando reforçado por ações de reabilitação de agressores e vítimas. “A reabilitação tem de olhar o indivíduo como um todo, entender seu contexto e contemplar sua família. Não adianta apenas punir.”


O DRAMA DOS NÚMEROS

Apesar de os profissionais de educação reconhecerem que o bullying é uma prática crescente, o fenômeno ainda não recebeu atenção especial das autoridades. Nem o Ministério nem as secretarias de Educação de cinco estados da federação consultados pela reportagem têm números a respeito – caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará. “Falta investimento em pesquisa”, queixa-se Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).

“A gente não tem registro de casos de violência, seja de professor contra aluno, aluno contra professor ou aluno contra aluno”, diz Rejane Quirino, articuladora de projeto interinstitucional da Secretaria de Educação do Ceará. “Mas isso não significa que não haja ocorrências, especialmente em escolas de áreas de risco, onde há muitas famílias desestruturadas e os índices de violência são altos”, complementa.

Como as demais secretarias ouvidas pela reportagem, a cearense não possui uma estratégia específica contra o bullying. A questão é tratada a partir de ações de combate à violência em geral ou pontualmente, em atividades expositivas e debates.

Em São Paulo, os especialistas apostam em uma estratégia para enfrentar o problema. “Há anos, lutamos para ter um psicopedagogo em cada escola estadual paulista, o que representaria um apoio importante para aluno e professor, e que poderia ajudar a prevenir o bullying”, diz Quézia. Ela se refere ao projeto de lei nº 128/2000, do ex-deputado estadual Claury Alves da Silva. Aprovado em 2001 pela Assembléia Legislativa, o projeto ainda não saiu do papel. “Em algumas escolas particulares, a situação pode ser melhor, mas, nas públicas, o professor está abandonado”, afirma.

A presença do psicopedagogo é bem vista também pelo vereador Gabriel Chalita, ex-secretário de educação paulista. Ele é autor de projeto para coibir o bullying nas escolas públicas da capital, que prevê, entre outros pontos, a formação de um cadastro em cada instituição de ensino municipal para o registro de ocorrências do fenômeno. “Assim, teríamos um perfil do bullying”, explica. O projeto passou com sucesso pela primeira votação na Câmara de Vereadores e agora precisa vencer uma segunda votação e receber a sanção do prefeito Gilberto Kassab.


A VISÃO DA ESPECIALISTA


Quando feito de apelidos e piadinhas, o bullying pode até parecer uma brincadeira. Mas suas conseqüências não são. Segundo a pesquisadora Cleo Fante, ex-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes), se mal resolvido, o bullying pode deixar marcas para o resto da vida – tanto nos que o praticam quanto naqueles que dele são vítimas. “É um equívoco dizer que o bullying é uma brincadeira e que os alunos o superam sozinhos. Estamos falando de uma forma de violência deliberada”, diz. Mergulhada há cerca de dez anos no tema, Cleo é co-autora do livro Bullying: Perguntas e Respostas e autora de Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz, recém-adotado pela Secretaria da Educação de São Paulo como manual para a rede estadual paulista. Confira a seguir a entrevista com a especialista.

O que caracteriza o bullying?
Para que uma ação seja considerada bullying, ela precisa ter certas características: ser repetida contra uma mesma pessoa, apresentar um desequilíbrio de poder que dificulte a defesa da vítima, não possuir razão aparente e contar com atitudes deliberadas e que tragam prejuízo – material, físico, emocional ou de aprendizado. Há estudos sobre bullying entre alunos e professores, porém, o mais conhecido é entre alunos, apenas.

Na sua opinião, as escolas sabem lidar com a questão?
A maneira de lidar com a questão varia muito. Independe da localização e dos recursos da escola. Depende, isso sim, dos valores que propaga. De modo geral, ainda há muito a melhorar, mas pelo menos a percepção social do bullying melhorou nos últimos anos.

O tipo e a localização da escola influem na incidência do fenômeno?
Nas pesquisas que realizei, não vi muita diferença entre escolas pobres e ricas, centro e periferia. Não posso generalizar, dizendo que as escolas públicas têm mais bullying que as particulares. O que se sabe é que as escolas que trabalham valores humanos, que colocam limites, que impõem autoridade aos estudantes, sofrem menos.

Há algum canal de denúncia oficial no país?
Sim, a partir de 2008, o Disque 100 [Disque Denúncia Nacionalde Abuso e Exploração Sexualcontra Crianças e Adolescentes, criado em 1997 pela Associação Brasileira Multidisciplinar de Proteção à Criança e ao Adolescente (Abrapia) e executado desde 2003 pela Secretaria Especial de Direitos Humanos] passou a acolher denúncias de bullying. Foi uma conquista nossa, dos profissionais que desenvolvem um trabalho na área há quase dez anos. Desse trabalho, também são fruto os diversos projetos de lei espalhados pelo país que preveem que as escolas passem a preparar seus funcionários – não apenas professores – para identificar o bullying e para lidar com ele.

O que leva uma criança ou adolescente a praticar o bullying?
Nos estudos com que me envolvi, identificou-se que 80% dos agressores eram vítimas de violência em casa ou na própria escola. Eles reproduziam essa violência. Outras fontes apontadas pelas pesquisas são a permissividade e a falta de imposição de limites para crianças e adolescentes, a ausência de afeto e a influência da mídia, videogames e jogos virtuais. É um equívoco dizerem que bullying é coisa da idade, que com o tempo passa, que é brincadeira ou que os alunos superam sozinhos. Estamos falando de uma forma de violência que é deliberada, intencional, que é tramada, planejada. O bullying não pode ser explicado pela insegurança da adolescência.

Que tipo de trauma o bullying pode gerar às vítimas?
A curto e longo prazo, o bullying interfere na auto-estima, na concentração, na motivação para os estudos, no rendimento escolar e nos males psicossomáticos (diarréia, febre, vômito, dor de estômago e de cabeça) da vítima. A longo prazo, a vítima pode desenvolver transtornos de ansiedade e de alimentação (bulimia, anorexia, bruxismo, alergias, depressão e ideias suicidas). Se não houver intervenção, pode haver efeitos para o resto da vida. A vítima pode ser sempre insegura. Alguns têm resiliência, o poder de resistir e superar situações difíceis, mas outros penam.

E os agressores?
O agressor sofre, de imediato, um distanciamento dos objetivos escolares. Ele passa a ficar o tempo todo planejando o que fazer e se esforçando para manter o jogo de poder com a vítima. Aliás, ele pode ter várias vítimas, isso é o mais comum. O agressor, então, pode sofrer queda no rendimento escolar e até evasão – como ele deixa de aprender, pode ser reprovado e perder a motivação para estudar. A longo prazo, ele pode cair na delinquência e no uso ou tráfico de drogas. Além disso, pode praticar o bullying em outros ambientes, como o trabalho e a família, tendo problemas nas relações profissionais e sociais e até nos relacionamentos afetivos e amorosos – prejudicados pela questão do poder, que tenderá a acompanhar o agressor.

É possível que o bullying tenha algum efeito positivo na vida adulta?
Imagine! Quanto mais cedo uma criança passa por situações de bullying, pior para ela.


O PAPEL DOS PAIS


No ar na novela Caminho das Índias, da Rede Globo, como o malandro César –empresário que, além de não punir o filho Zeca, um típico agressor de bullying, chega a incentivá-lo –, o ator Antonio Calloni vive o seu oposto. Em casa, ele conta ser um pai preocupado com o caráter do filho Pedro, 14, a quem impõe limites, mas também oferece atenção. O rapaz, garante o ator, nunca teve problemas na escola. “Um ‘não’ também é um sinal de amor, e isso o César não entende, porque tem uma afetividade deformada: ele admira as atitudes do filho como se fossem provas de virilidade. Ele o educa para ser macho, não para ser homem”, diz Calloni. “É preciso dar limites, o filho tem que aprender a lidar com frustrações.” A fala de Calloni vai ao encontro da opinião de diversos especialistas em educação. De modo geral, os estudiosos diagnosticam a falta de limites como uma das causas do mau comportamento atual de crianças e adolescentes, ao lado de uma mudança social profunda que teria desequilibrado o esquema familiar. “No começo do século XX, as relações eram diferentes já dentro da família, os papéis eram muito bem definidos. O pai comandava os filhos com o olhar, não precisava falar”, diz a psicopedagoga Edimara de Lima, diretora pedagógica da Prima-Escola Montessori de São Paulo. “Hoje, disciplina é uma palavra fora de moda, por conta da ditadura da não-frustração que vivemos: os pais querem que seus filhos sejam felizes o tempo todo, como se isso fosse possível.”

Como resultado, afirma Edimara, a criança se torna um adulto despreparado para a vida, que é feita de conquistas e também de decepções – ou um adolescente fora de hora. Paula Cantos, coordenadora e psicóloga do colégio Graphein, concorda. “A infância e a adolescência são fases em que cada um constrói o seu ‘eu’, o seu lugar no mundo, e para isso é preciso o suporte dos pais e da escola: se esse suporte balança, o indivíduo se fragiliza e não adquire habilidade para lidar com o mundo.”

Olhos e ouvidos – Além de transmitir regras aos filhos, os pais devem estar sempre alertas para perceber sinais de envolvimento com bullying. Essa percepção pode se dar em diálogos sobre o dia-a-dia escolar e na leitura de possíveis indícios que os filhos tragam consigo ao chegar em casa (confira os sinais mais comuns). Também cabe aos pais acompanhar o comportamento dos filhos e, uma vez sentindo necessidade, encaminhá-los a um psicólogo ou a uma assistência psicopedagógica.

Caso identifiquem no filho uma vítima de bullying, diz a pesquisadora Cleo Fante no livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz, os pais devem procurar a direção do colégio – e não o agressor ou sua família. O revide, aliás, nunca deve ser incentivado. Se a escola não der uma resposta adequada, pode-se partir para o Conselho Tutelar. Agressões praticadas por maiores de 12 anos podem ser levadas à Justiça e resultar em advertência e serviço comunitário para o réu (se adolescente) ou pena de seis meses a dois anos de prisão (se adulto).


A VIGILÂNCIA DOS PAIS
*COMO IDENTIFICAR SE SEU FILHO É UM POSSÍVEL PERFIL DE VÍTIMA OU AGRESSOR



CYBERBULLYING PREOCUPA

A variante de bullying que tem dado mais trabalho para escolas, pais e estudantes é o virtual, também chamado de cyberbullying. “Na faixa dos 13, 14 anos, a mais crítica de todas, é frequente o desrespeito pela internet. Os alunos criam comunidades no Orkut, entram de forma anônima ou não e falam mal de outros”, diz Fábio Aidar, vice-diretor-geral do colégio do Santa Cruz, em São Paulo. “Para prevenir, fazemos um trabalho verbal, orientando os alunos para o bom uso da internet e lembrando a importância do respeito ao próximo.”

De modo geral, os colégios particulares vetam o uso de celular em sala de aula - o que evita que se filme alguma cena constrangedora para depois jogá-la na web, um tipo possível de cyberbulling. Em algumas instituições, ele é liberado no recreio e nos intervalos, ou quando há uma ligação importante a ser feita pelo aluno (desde que ele avise antes a direção da escola). Em algumas redes estaduais, como na do Paraná, há orientação para as escolas proíbam o celular, mas cabe a cada uma vetar concretamente ou não.

Sufocar completamente o cyberbullying é, porém, uma missão complexa, porque muitas das agressões virtuais são feitas pelos alunos a partir de suas casas. “Hoje, a nossa preocupação maior é com o que os alunos fazem fora da escola: as festas, as drogas e a internet”, reconhece o psicólogo Cristiano Braune Wiik, coordenador pedagógico do 1º ano do ensino médio do São Luís. Aqui, mais uma vez, as escolas centram fogo na prevenção. “Nós monitoramos a navegação no colégio e orientamos as família a fazê-lo em casa, ficando ao lado do aluno e verificando seus hábitos on-line”, afirma Nívea Fabrício, do Graphein, chamando atenção para o outro lado do combate ao bullying: a ação dos pais.

Xingamentos eletrônicos – Frederico, de 12 anos, identificado aqui por nome fictício, chegou a deixar três escolas por envolvimento em brigas. Em suas próprias palavras, estava sempre disposto a entrar em combate. “Quando me xingavam, eu já partia para a briga”, lembra. Era um agressor, mas também vítima do bullying – visto como vilão, acabou sendo perseguido e se tornando o bode expiatório da turma.

Ao lado de colegas de um de seus colégios anteriores, participou de uma comunidade na rede social Orkut que era um exemplo claro de bullying virtual: “Eu odeio a Gisela” – outro nome fictício. A página, que chegou a reunir 120 participantes, propunha uma enquete em que os visitantes podiam escolher uma maneira de ofender Gisela. “Burra”, “escrota” e “tonta” eram os adjetivos mais leves.

Transferido para o colégio Graphein, especializado em estudantes com dificuldades de adaptação, Frederico começou a deixar para trás as práticas. Mais calmo e sociável, é considerado um jovem em “reabilitação”.


Fonte: http://veja.abril.com.br/especiais_online/bullying/index.shtml